quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Vejo meu reflexo diáfano no vidro.
Do lado de fora as pessoas falam mas não há som.
Só mesmo na morte não há som.
O meu reflexo boceja e me diz:
Só mesmo na morte não há som.
Só mesmo aqui, na companhia de um frio fabricado e do branco das paredes não há som.
Mas há meu reflexo falando.
Querendo me enlouquecer fala devagar para que eu possa ler seus lábios.
Sem som.
Às vezes eu não entendo e ele se irrita.
[Ele: o reflexo]
Mas ele nunca é claro.
Só mesmo na morte não há som.
Repete.
Ainda bem que ouço sons.
Do teclado, do ar-condicionado, de uma música na rádio on line.
Deixe-me em paz reflexo!
Preciso trabalhar.
Tra-ba-lhar.
[...]
Acho que vou ao banheiro.
Cruzo a porta.
Sem som.
Meu coração.
Sem som.
E meu reflexo diz:

Somente na morte não há som.

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