sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Garotos

Cutuquei ela um tanto indiscretamente quando ele passou, mas ela, como sempre, conseguiu ser mais indiscreta.

Quantos anos tínhamos? Que músicas ouvíamos?
Oh, isso foi ano passado e já nem lembro.

Ele chegou com todos os outros. E observamos tudo, menos o nosso comportamento patético.
Daí passaram-se alguns meses e muitos goles de cerveja para desatar o nó da garganta e atar o nó da língua. Mas ele sempre chegava e sempre desviava, sem saber que o fazia, sempre desviava os nossos assuntos para alguma de suas companhias.
E sempre apresentava uns e outros, mas nunca se apresentava como gostaríamos. Nem estava bêbado como gostaríamos e nem se vestia ou se portava como gostaríamos. Então era um mistério a nossa obsessão por ele, claro que era. Ou claro que não era. A verdade é que tudo partia do fato de que nunca um de nós ficou com ele.
Estivemos no meio deles e delas, as garotas que vomitavam por qualquer coisa, fosse bulimia ou porre, fosse as duas coisas. Fosse o que fosse e pisássemos onde pisássemos, nós e os garotos, nos divertíamos sem saber, nós, os garotos. Quando ela sumia com um deles era eu e os garotos e às vezes era só eu voltando só ou eu voltando com alguém que estragava tudo no caminho. Ou era eu? Ou era ela? Ou eram eles que estragavam tudo até molharem e sujarem nossos lençóis? Essas grandes crianças desapareciam quando mais os queríamos por perto.
E ele era nada menos que a utopia personalizada. Imaculada. 
E nós permanecíamos rindo sem saber que nada ou tudo ocorreria.
Porque a distancia entre o nada e o tudo pode ser um grande gole de cerveja.

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