terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sem som

Ironicamente meu rosto ficou mais bonito com o queixo inchado.
Contei poucos hematomas.
Nada comparado à vez que me deixaram surdo depois de tanta pancada.
Por isso mesmo desta vez eu não ouvi a moto se aproximar.

Quando outra moto chegou perto eu achei que seria meu fim, mas ele me estendeu a mão.

Meu rosto ardia e mesmo assim eu tentei aliviar a vergonha com o capacete. 
Por duas vezes ele tentou contato visual e conseguiu, mas não vi sua boca mover. 
Ele deve estar falando, pensei, ele deve estar falando alto de frente pra lá. 

Eu disse moro ali, mas era mentira.
Ele parou e eu não olhei pra mais nada.
Continuei vagando por mais uns metros até que encontrei minha cama e ele encontrou a dele.
E eles encontraram suas camas e se cobriram com o lençol da impunidade.



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