sábado, 6 de outubro de 2012

Fábrica de Nuvens

Fiquei por um tempo indeterminado ali admirando a fileira de dentes.
Placas brancas, perfeitas.
Não era seu sorriso, mas seus dentes.
Não era seu espírito, mas sua presença.
E quando foi-se embora foi como ligar uma lâmpada dentro de mim.
O simples ato de liga-la e a velocidade da eletricidade (seria mais rápida que o pensamento?).
Ligou-se.
Sem que eu precisasse esboçar um movimento.
Uma reação.
Tudo em mim ficou irremediavelmente iluminado.
Pensamentos a ele se entregaram.
Até minha cabeça doer.
Amar com a cabeça.
Amar um pedaço de carne e ossos.
Mandíbula que se move.
Boca que sorri.
Dentes.
Essa obsessão pela matéria.
Este amor ao palpável é tão incompreensível quanto amar o abstrato.
Acho que até mais.
O palpável também se vai.
Faz cooper na praça, faz amor, faz nada...
A visão dele em qualquer lugar e com qualquer traje é a verdadeira passagem para a luz dos meus olhos.
Tão escassa quanto o sol que já se pôs e projeta seus últimos raios absorvidos por nuvens.
Ele é minha nuvem.
Mutável.
Ganha minha cor quente.
Ele é nuvem que cobre estrelas, que faz chover, que refresca e foge.
Que produz trovão, só comparável à minha taquicardia.
E às vezes ele nem precisa existir ou estar.

Fábrica de nuvens.

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