segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O Barco

Ali curvado eu notei as escamas no meu sapato, a rede de pesca roçando no meu ombro com seu cheiro de mar e lama. 
Vão nos ver aqui. 
Consegui dizer esperando não ouvir o pior.
Não, não vão, está escuro.
O barco era inacabado e pequenos caranguejos entravam ali com sua pressa e desenvoltura características.
Eu o abracei para me apoiar e sentir melhor seu cheiro.
Foi só perceber que aquilo era real para eu mergulhar no mais obsceno sonho.
Ele me segurou e eu me curvei ao máximo para a frente segurando na madeira cheia de farpas.
Acho que a hora mais íntima é essa em que o pau entra com a minha ajuda.
É como se eu o agarrasse no ponto mais fraco fazendo ele se entregar e desejar nada mais que me preencher. E ele tinha atributos para isso.
Quando senti que estava completo, entregue numa mútua falta de vergonha eu enfim sorri para o infinito.
Para a escuridão e para o brilho delicado de sua pele que pouco se distinguia da noite. 

Nenhum comentário: