sexta-feira, 26 de março de 2010

Despindo meu herói

Sexta-feira e eu aprisionado àquela lembrança que durava menos de três segundos e se repetia. Ainda me perguntando como pode existir num mesmo rosto um sorriso tão tímido e olhos tão desavergonhados.

Pior que um dia ser adolescente é descobrir-se adulto e não menos imaturo. Foi apenas um sorriso cordial, mas quero convencer a mim mesmo que os olhos diziam mais. Os olhos... E aí cabem suspiros que atravessam sem nenhum medo a noite suburbana da capital. O destemor é o pior dos males da paixão.

E o que dizer dessa solidão e tédio crônicos capazes de me fazer aventurar dois drinks? Estou sofrendo, concluí quase em voz alta. Tão pequeno foi o tempo que me separou da morte ali que eu desejei mesmo ter morrido. Foi só um carro ligeiro como um raio e como este também dotado de uma luz fria e cortante. Estou só na ponte muito tonto e coberto pela luz.

Coberto pela luz. Estou partindo.

Ainda me perguntando como pode existir num mesmo rosto um sorriso tão desavergonhado e olhos tão tímidos.

Estou partindo.

4 comentários:

Geraldo Brito (Dado) disse...

Belo texto.

Luidgi disse...

Como assim se apossar? Não compreendi.

Anônimo disse...

Muito bom o texto.


Parabens pelo blog.

Felipe Lucena disse...

Bonito. Visual. Diz muito. Quase tanto quanto os tais olhos...