quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Quarto Azul

Depois que entrou naquele quarto quis que o seu fosse igual.
Foi estudar na casa de um amigo. Trabalho em grupo. Pouco produtivo para ele.
Imerso nas paredes azuis.
Como obter esse tom de azul?
Como combinar os móveis?
A madeira clara da cama e do armário combinava com a moldura de um quadro peculiar, quase tão azul quanto as paredes: um quebra-cabeça de mil peças emoldurado. Um veleiro branco no mar azul.
Como alguém montou?
Quanto tempo levou?
É difícil numa figura de regiões tão monocromáticas.
Não faria perguntas tão idiotas.
Tinha um dinheiro guardado. Suficiente para a reforma (desnecessária) do quarto.
Passou (sem mentira nenhuma) duas horas para obter o tom de azul que o havia conquistado.
Numa moderna loja onde os pigmentos são misturados virtualmente.
Feliz contratou a mão de obra e, no dia seguinte, o quarto era de um azul impecável.
Mas faltava o veleiro de mil peças.
Como obtê-lo?
Certamente Felipe o ostentava como uma obra de grande valor. Sentimental inclusive.
Podia vislumbrar a família reunida obstinada em montá-lo.
Vislumbrou a última peça colocada num recanto azul do céu.
Todos comemoraram e, em seguida, emolduraram aquela porcaria de quebra-cabeça.
Por mais que comprasse e montasse um igual, jamais o olharia como Felipe olhava o seu.
Tambem não via mais graça naquele azul.
Dormiu e sonhou com o veleiro.
Acordou enjoado sem saber se era dia ou noite.

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