quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eu nunca vi

Não havia lua.
O quintal mergulhava nas trevas.
Os olhos das galinhas estavam do avesso àquela hora, mesmo não sendo tão tarde.
Não fui eu quem começou a contar as histórias, mas partiu de mim a idéia de leva-lo até o lugar onde esteve a aparição.
Eu era o mais velho, mas éramos todos crianças.
Ele era o mais novo e medroso e eu achei que aquilo faria dele o mais corajoso de nós.

Segurado pelo braço ele foi quase arrastado até o fundo quintal. Seguindo o caminho tantas vezes percorrido de dia.
Abre o olho!
Eu não vi.
Eu disse que muitas vezes havia visto, mas nunca vi.
Ele viu.
Eu fiquei abaixado olhando na mesma direção.
Agitei a lamparina tentando atrair aquela coisa sinistra que ele dizia não ser humano.

Ou dorme ou pelo menos fecha os olhos. Eu estou me assustando com você.
Ele gritou MAMÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE! Tão alto que os vizinhos acenderam as luzes.
Minha tia veio correndo balançando os seios fartos e aquela eterna gordura da barriga. Seu rosto apavorado me assustou mais que qualquer outra lembrança sinistra que guardava até então.

Hoje meus outros primos que também tiveram a visão vieram me contar que ele desapareceu há dois meses.
Depois do enterro da tia ele simplesmente sumiu.

Foi quando se abriu a porta do meu quarto e de lá saiu o mais novo de nós.
Eu o mantive comigo e o abracei todas as noites fazendo do meu corpo fechado a armadura que o protege daquilo que o persegue desde a infância.FIM

2 comentários:

Blog da Carlinha M. disse...

Gostei.

Andressa m disse...

Seu blog é muito bom!!
Fazia tempo que eu não lia tantos posts seguidos com interesse...
então, acho que é parabéns hehe

muito bom mesmo!