segunda-feira, 7 de abril de 2008

Bus

Foi buscar inspiração no lugar errado. E exatamente por isso encontrou. Barzinhos comportados comportam um tipo de gente inimaginável. Como aberrações que se libertam após a meia noite, ou como ele, demoram um pouco mais.
Vidas que parecem restritas a luzes
vermelhas, roupas mínimas e extravagantes, drinks exóticos, musica erótica...
Tudo que é belo é também perigoso, o feio também, o bizarro idem.
As aparências não enganam, é tudo absurdo mesmo. Por isso ninguém se importa com a roupa de cooper que ele veste. Na verdade é bem misterioso aquele tipo jovem grisalho com aliança e óculos de aro finíssimo.
Parece um dos clientes da Betty, um ex-namorado do Breno. “Um tira à paisana”, suspeita o Beto.
Um tipo que bebe wisky importado. Um tipo que as moças e os moços adoram.

Na primeira troca de olhares ele sorri com timidez calculada. Ela também sorri. Não está contente com o decote nem com as unhas mal feitas, mas a boca é muito sensual e os olhos lânguidos, àquela hora, são um atrativo.
Aproximam-se e o primeiro toque é inevitável. Desejável por ambas as partes e por todo o cosmos que rege aquele lugar entorpecente.
“Este lugar é cheio de boas surpresas.” Ele diz.
“Surpreende quem é novo aqui e ainda mais quem aqui esperava.”
Ele fica boquiaberto. Ela também, pois não se conhecia tão desinibida.
As bocas inquietas pela troca de poucas palavras sentem que precisam sanar o desejo. Encontram-se num beijo inesquecível para ambos. E depois olhares e mais beijos e as mão dele nas pernas dela e as dela na sua nuca suada.
Ele foi ao banheiro e não voltou mais.
Ela bebeu o resto da noite e saiu com um tipinho detestável.
Ele estava a caminho de casa correndo como um perfeito atleta com seu tênis encharcado pela chuva que caía escondendo o sol nascente.
Ele não iria dormir, ao contrário da esposa que tomou calmantes demais.
Ele viu um ônibus pela ultima vez.
CRASH!

Nenhum comentário: