segunda-feira, 8 de abril de 2013

Welcome to Twin Peaks

Há 23 anos o corpo sem vida de Laura Palmer foi encontrado envolto em plástico à beira de um rio. Eram os primeiros minutos do episódio piloto da série americana de TV que arrebataria fãs no mundo todo. 

Criada por Mark Frost e David Lynch, a audaciosa série segue de perto as investigações do agente Dale Cooper sobre as circunstâncias misteriosas do assassinato da popular colegial. 
Eis que o cadáver ganha vida ao longo dos episódios através das deduções nada convencionais, mas sempre precisas do simpaticíssimo agente Cooper. E aí está um dos grandes trunfos da série: a humanização de uma personagem que nunca aparece viva, a não ser em sonhos, vídeos ou flash backs. 
Com o corpo coberto de evidências que, a cada episódio apontam suspeitos inesperados (ou nem tanto), Laura Palmer vai cativando o público pela sua entrega aos riscos do submundo de Twin Peaks, enquanto que paralelamente se descobrem suas virtudes atrelando-a a muitos outros personagens. Trazendo à tona gradualmente cada mistério cravado no interior da floresta. Mais que isso, no interior de cada um. Até mesmo no inconsciente. Envolvendo o Agente Cooper por inteiro de forma tão irreversível quanto irresistível.
Colocando o inconsciente do investigador na trama a série fugiu da mera investigação policial para um campo sem classificação e, por isso mesmo, tão atraente.

Os elementos simbólicos e, a princípio ilógicos, ganham a dimensão de personagens sendo um deles inclusive personificado numa figura pavorosa. O que parece banal em Twin Peaks é de tal forma analisado e adorado por Cooper que começamos também a ficar atentos a todo tipo de comportamento e, é fato que estes vão ficando cada vez mais excêntricos. Sem causar, no entanto, nenhum incômodo. Ao contrário, só nos coloca numa deliciosa trama que, por mais cruel que seja é também um ensaio soberbo de surrealismo e originalidade. 
Estão aí os elementos típicos de David Lynch, que viria a fazer trabalhos com certa semelhança estética, abordando o surreal, o onírico e inexplicável mundo do inconsciente. Twin Peaks foi esta alegoria do universo interior de cada um de nós. Do desejo incontrolável de se encontrar como ser humano seja no perigo real, seja no sonho. Onde a busca por respostas de um investigador caminhou junto a um mundo particular adaptando-se, aprisionando-se a ele, envolvendo a nós expectadores, cada vez mais próximos da dimensão de Laura Palmer. Da sedutora e perigosa excitação que o mistério nos proporciona.

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